Drops políticos de Maio de 2021

1 de maio

A notícia é “Bolsonaro também disse que não irá regulamentar uma emenda constitucional de 2014 que prevê a expropriação de propriedades onde foram identificados casos de trabalho escravo.”

Em breve veremos a esquerda toda apontando o dedo como se ninguém mais tivesse culpa nesse cartório.

2014 já é tarde demais pra uma coisa dessas. E Dilma teve tempo de sobra pra regulamentar isso. Qualquer desculpa em contrário é isso mesmo, uma desculpa.

Fala-se tanto da escravidão do século XIX e silencia-se muito sobre a escravidão em pleno século XXI, particulamente quando é em nosso país.

Esse assunto é muito mais urgente do qualquer sistema de cotas ou política identitária.

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3 de maio

Quando eu vejo alguém dizendo que Lula representa a mudança, meu coração chora.

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3 de maio

A deidade Ricardo Lewandoswki baseia uma decisão liminar em pequisa citada em um jornal e ainda se vê com moral de criticar outros magistrados. Esse é o nível do nosso Judiciário.

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6 de maio

Não se compara mortes. Cada um sente cada morte de forma diferente.

É no mínimo inadequado comparar a morte de Paulo Gustavo com os mortos na tragédia de Santa Catarina. Da mesma forma que não é adequado comparar mortos em um atentado terrorista em Paris com os mortos em um atentado terrorista na Nigéria.

Em regra, tais comparações são feitas com objetivos políticos e contexto ideológico. E isso é muito feio.

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7 de maio

A notícias é “A Câmara dos Deputados acelerou nas últimas semanas a tramitação da Proposta de Emenda à Constituição 5/2001 (PEC), que aumenta o número de representantes do Congresso dentro do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), diminui o número de cadeiras indicadas pelo MP e faz com que o corregedor do órgão não precise, necessariamente, ser um integrante das carreiras do MP.”

Parabéns a todos aqueles que apoiaram o avanço contra a Lava-Jato para salvar o seu político de estimação. Vocês estão conseguindo garantir a perpetuação da impunidade da corrupção no Brasil.

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10 de maio

Já que a nossa esquerda está em plena campanha contra o voto nulo, é bom relembrar as sábias palavras de um amigo:

“Eu sou brasileiro, dependo como qualquer um das decisões políticas. Sofro com as decisões ruins, mas faz tempo que não vejo decisões boas. Não é o meu não voto que sustenta esse jogo político escroto no Brasil. O que sustenta isso é as pessoas aceitarem ser esse como o único jogo a jogar.”

Enfim, você não precisaria votar nulo no segundo turno se as pessoas escolhessem bem no primeiro turno. Quem faz campanha contra o voto nulo é justamente aquela pessoa que escolheu uma merda de candidato no primeiro turno.

Tudo se resume a uma única questão: ninguém deveria se contentar com o menos pior.

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11 de maio

Outro dia li uma pessoa dizendo que TODAS as mortes por Covid no Brasil poderiam ser evitadas.

Será que a pessoa sabe alguma coisa sobre a China que ninguém mais sabe?

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O vice-presidente do Flamengo declara que o clube continuará apolítico após fechar patrocínio com a Havan.

Tão apolítico como quando o presidente do clube foi puxar o saco do Bolsonaro em Brasília ou quando força medidas antiquarentena e pró aglomeração social.

O que mais me chama a atenção é o silêncio sepulcral das patrulhas políticas nessas horas.

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14 de maio

Morreu Jorge Picciani. Não farei nenhum comentário em respeito aos amigos e parentes.

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16 de maio

Quando Bruno Covas, torcedor do Santos, foi criticado ao ir à final da Libertadores com seu filho, respondeu dizendo que poderia não ter outra oportunidade de ir a um jogo com seu filho.

Depois de ver a foto dos dois juntos no hospital, não posso ficar nada além do que sinceramente triste com seu falecimento neste domingo.

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17 de maio

E há quem diga que a opção pelo centro é sinal de covardia ou conivência com um dos lados. Ao contrário, é a mais corajosa, pois se coloca como alvo de ambos os lados. Em anos de polarização, o alto do muro é o lugar mais arricado de se estar, longe do abrigo submisso a um dos lados do muro.

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21 de maio

Essa CPI tem todos os ingredientes que me fazem não assistir a uma série: roteiro forçado, diálogos mal escritos, atores ruins e um protagonista canastrão.

Fico lembrando dos deputados da nossa esquerda vociferando no Congresso contra o fato da votação do impeachment de Dilma ser presidida por Eduardo Cunha (que era, de direito, o presidente da Câmara). Mas nenhum deles parece se importar com uma CPI presidida por Renan Calheiros (que não tem porque estar lá).

Sempre dois pesos e…

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25 de maio

Ricardo Salles consegue derrubar coordenador da equipe de Paulo Guedes. Adivinhem quem é o Superministro do governo Bolsonaro?

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26 de maio

Claudia Leitte (ou sei lá quantos “Ts” ela tem) foi obrigada a se desculpar publicamente por ter sido vaga ao falar sobre suas indignações e não ter mencionado Bolsonaro ou o governo federal claramente.

Não adianta nada dizer que é contra o fascismo e adotar práticas totalitárias. No final, dá tudo no mesmo.

Provar o que pra quem?

29 de abril de 2021

Já postei aqui o caso da Elisa, a adolescente que decidiu estudar por conta própria, passou em 5° lugar na USP, mas não pôde se matricular por não ter um diploma formal.

Aí eu pergunto: pra que existe uma prova?

Penso que, a partir do momento que existe uma prova pra você poder estudar ou trabalhar, isso é o que importa.

A prova, em tese, é pra medir seu grau de conheceminento em determinado assunto. Se você passou na prova, então você detém esse grau de conhecimento.

Por exemplo: você se formou em Direito por uma faculdade, mas, para exercer sua profissão, ou você tem de fazer concurso público ou a prova da OAB. Então, se o curso não o capacita a trabalhar, pra que cursá-lo? Ou melhor, pra que a obrigatoriedade? O que vale é passar na prova.

Se a prova não é capaz de auferir isso, ou ela é ruim ou é desnecessária.

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5 de maio de 2021

Lembram da jovem Elisa, que estudou por conta própria e, aos 17 anos, passou em quinto lugar no vestibular pra Engenharia da USP e não pôde se matricular?

Pois bem, ela ganhou de uma empresa uma semana com tudo pago no Vale do Silício. Segundo a própria menina, ela também ganhou um curso online de curta-duração, nos Estados Unidos, pela mesma empresa para Business Administration e um convite para um estágio.

Nos EUA, há quem prefira investir no futuro do que na burocracia ou no corporativismo.

Em tempo: Elisa é autista.

Diário da Pandemia, 30 de Abril de 2021

Meu irmão tomou sua primeira dose de vacina hoje. Entrou na leva dos 58 anos em grupo de risco. Pelo andar da carruagem, só devo receber a minha primeira dose em junho.

Tudo bem, não tenho pressa. Só não esperem me ver numa foto nas redes sociais. Terça eu fui vacinado contra a gripe, mas ninguém teve vontade de tirar uma foto minha. Enfim, como já disse, meu único programa de milhagem é o Smiles, e sempre esqueço de resgatar meus pontos do cartão. Mas quem pensa em viajar, não é mesmo?

Enfim, se pegar Covid, paciência. A Juliana já pegou, meus pais já pegaram (meu pai duas vezes!), minha irmã e meu cunhado já pegaram. Estão todos ainda por aí, sendo que meu pai não tem uma comorbidade, mas uma coleção delas.

Se eu pegar e não tiver a mesma sorte que eles, paciência. Melhor do que morrer de supetão, de bala perdida, queda, facada, atropelado, descarga elétrica ou latrocínio.

No fundo, será um alívio. Não tenho condições de viver fora do Brasil, e a vida aqui tá uma merda. Não falo pelo Bolsonaro, mas pelo ar que se respira. Não, não falo da poluição, que até deu uma melhoradinha, mas das questões morais e éticas, das relações pessoais e sociais, dessa política de merda com políticos de merda, e a perspectiva de só piorar e nos afundarmos cada vez mais na lama. Bolsonaro é só mais um aspecto. A coisa já degringolou faz tempo.

Claro, sentiria muito não poder ver meus filhos crecerem (lado egoísta). Lamentaria muito por eles crescerem sem um pai (lado altruísta). Mas, sim, seria um alívio me ver livre de tudo isso. Já vivi o que tinha pra viver. Fiz três filhos maravilhosos, publiquei alguns livros… só as árvores eu deixei que a minha mãe plantasse. E pra que plantar, se mais cedo ou mais tarde vem uma construtora ou a prefeitura derrubar?

Que o digam as trinta árvores que verdejavam na antiga Praça Niterói. E o que dirão o cacaueiro, os dois abieiros, o abacateiro, as diversas jabuticabeiras e bananeiras, as duas mangueiras sobreviventes, o mamoeiro, os dois sapotizeiros, o cafeeiro, a jaqueira, as três pitangueiras, o jambeiro, o pinheiro, as duas romãzeiras e o trôpego caquizeiro lá de casa, todos futuras vítimas de tratores e serras elétricas.

Drops políticos de Abril de 2021

17 de abril

Renan Calheiros presidindo uma CPI, qualquer que fosse, é a prova inequívoca de que os bandidos venceram e continuam no poder mais fortes do que nunca. E ano que vem podem trazer de volta seu líder máximo.

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19 de abril

Tasso para presidente? Quando você acha que acabou o arsenal de más ideias do PSDB, eles sempre aparecem com mais uma…

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20 de abril

A notícia é “Lei Seca registra alta no número de motoristas embriagados no último final de semana”. Faz sentido. Quem consegue passar por essa fase totalmente sóbrio?

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Impressão minha ou o Posto Ipiranga foi estatizado?

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21 de abril

Alguém lembra aqui que, no final do governo Lula, ele enviou Dilma, já escolhida como sua sucessora, como chefe da delegação brasileira à cúpula de meio ambiente em Copenhaguen?

Alguém lembra que ela e o então ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, viviam batendo de frente, pois Dilma defendia posição diametralmente oposta a dos ambientalista, totalmente desenvolvimentista e poluidora?

Alguém lembra que Lula, sabendo que o caldo tava entornando nas zooropa, se mandou para lá e, sentindo o clima (sem trocadilho), assumiu o microfone e fez o discurso mais ambientalista que já se viu na história desse país?

Lula sabe como ninguém dizer o que a plateia deseja ouvir. Sem nenhum acompromisso com a realidade ou com ações efetivas, é claro.

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23 de abril

Gilmar Mendes (Judiciário), Renan Calheiros (Legislativo) e a dicotomia Lula/Bolsonaro (Executivo) sintetizam o que há de mais escroto na política e na sociedade brasileira. Haja estômago!

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28 de abril

Fez-se justiça! Teve fim a prisão abusiva de Eduardo Cunha. Agora ele vai poder tomar uma cachacinha merecida com o Lula.

Mas não comemorem ainda, pois falta o Cabral: set him free!!!

Enquanto todos não estiverem solto, o país não terá se livrado da ditadura corrupta imposta pela Lava-Jato!

Aí sim poderemos voltar à democracia plena e livre da corrupção!

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30 de abril

A notícia é “Aos 100 dias, Biden dispensa bipartidarismo e se torna o presidente ousado que ele nunca disse que seria”. Previsível, pois só há “bipartidarismo” quando o outro lado está pensando mais no bem do país do que em si mesmo. Biden estava lá, bem do ladinho de Obama, quando este quebrou a cara tentando seguir por esse caminho. Não sei se Biden será um bom presidente, mas já demonstrou que não é burro.

Human Rights Now!

Esse é o show, junto com o do Queen, que eu mais me orgulho de dizer que fui. Não me perdoaria nunca se tivesse perdido o ingresso.

Desde o momento que eu soube que teria, sabia que estaria lá no dia 12 de outubro de 1988, um encontro marcado pelo destino. Afinal, já tinha ido a São Paulo tantas vezes visitar a Editora Abril, por que não iria a um show?

A notícia se espalhou como um rastrilho de pólvora pelos pilotis da PUC e em pouco tempo a galera já havia fretado um ônibus.

A turnê da Anistia Internacional percorreu 15 paises, num total de 20 shows. Começou em Londres e terminou em Buenos Aires, que valeu também por um show no Chile, que ainda estava sob o tacão de Pinochet. A penúltima parada foi o Brasil, em São Paulo. Mais precisamente o antigo estádio do Palmeiras. O line up era composto por no mínimo seis atrações, sendo cinco delas fixas: o senegalês Youssou N’Dour, Tracy Chapman, Sting, Peter Gabriel e Bruce Springsteen com sua E Street Band à tiracolo. A sexta atração era local. No caso, Milton Nascimento.

Eu, claro, só exergava um nome na lista de atrações: Bruce Sprinsteen. Primeira vez do bardo na América do Sul, para onde só voltaria 25 anos depois (e lá estava eu de novo). Fiz muito bem em ir!

Tracy Chapman estourava nas rádios com um hit em uma novela (o que a deixou possessa), mas Youssou N’Dour era um ilustre desconhecido. Espertamente, colocaram ele antes de Milton. E foi um show bastante animado!

Eu já tinha visto dois excelentes shows de Milton, na Apoteose e no Maracanãzinho, mas este foi o melhor deles (e último que eu vi). Talvez pela importância da apresentação e pelo tempo enxuto, Milton foi direto ao ponto e desfilou canções de alto nível.

Quando Tracy Chapman subiu toda tímida sozinha com seu violão, ninguém achou que aquilo iria dar muito certo, mas ela detonou e levou a galera ao delírio.

Sting já tinha feito seu megashow no Maracanã no meio do ano, então para muitos já não era novidade. Talvez por isso, apesar de ser o mais conhecido, foi o quarto a se apresentar. Mas eu não fui no Maracanã e curti bastante, apesar de achar o seu show meio longo.

Eu só não estava preparado para o que viria a seguir. Só conhecia duas músicas de Peter Gabriel: Biko, que curtia, e Sledgehammer, que eu não curtia (até hoje não gosto muito da versão em estúdio). Mas a apresentação foi simplesmente fe-no-me-nal! Que banda! E Sledgehammer ao vivo é incrível! Esse show valeu por todos os outros dele que eu não fui (sempre em São Paulo, humpf!).

Então, com o público já morto, vieram as batidas introdutórios de Born in the USA. Se havia algum morto enterrado debaixo daquele gramado, também se levantou para pular.

Segue abixo os setlists de Bruce e Gabriel.

Peter Gabriel:

Red Rain

Games Without Frontiers

Shock the Monkey

No Self Control

Don’t Give Up

Sledgehammer

Biko

In Your Eyes (com Youssou N’Dour)

Bruce Springsteen:

Born in the U.S.A.

The Promised Land

Cover Me

I’m on Fire

The River (com Sting)

Cadillac Ranch

War

My Hometown

Dancing in the Dark

Glory Days

Born to Run

Twist and Shout

Assim como todos se juntaram na abertura para cantar “Get up Stand up” de Bob Marley, eles se reuniram no final (já sem o Milton) para cantar “Chimes of Freedom”. E ainda teve bis com “Get up Stand up” novamente.

Jethro Tull no Maracanãzinho

O ano de 1988 foi excelente para shows. Depois de começar o ano com Oswaldo Montenegro, em 30 de julho foi a vez da turnê de 20 anos do Jethro Tull chegar ao Rio de Janeiro.

O show foi no Maracanãzinho. Assisti de arquibancada com uma cabeçada, mas só lembro que meu amigo e vizinho Zeca (aqueles mesmo do show do RPM) estava junto. Sofremos com a acústica sempre péssima do lugar.

O ingresso vinha num envelopinho rosa. Este eu guardei, assim como a matéria de jornal sobre o show anterior, em Belo Horizonte, no Mineirinho.

No ano anterior, em 1987, o Maracanãzinho foi palco de outra celebração de 20 anos, os do lançamento de Travessia. Outro excelente show de Milton Nascimento. Mas não tenho o ingresso.

Graças a internet, hoje posso postar também o setlist do show do Jethro naquele dia.

Intro (tape), Cross-Eyed Mary, Nothing Is Easy, Thick As A Brick, Steel Monkey, Farm On The Freeway, A New Day Yesterday, Fat Man, Budapest, The Swirling Pit, Wond’ring Aloud, My God (w. flute solo, incl. Bourée, Kelpie), Pussy Willow/Pibroch (inst.), Jump Start, Too Old To Rock’N’Roll, Wind Up, Aqualung, Locomotive Breath/Seal Driver (inst.)/Black Sunday (inst)/Thick As A Brick (reprise)

Teatro nos anos 80

Se não consegui guardar todos os meus ingressos de show, imagine então os de teatro, que nem foram tantos assim…

Nos anos 80, tentei com afinco me tornar um fã de teatro, mas não deu liga. Ainda assim, assisti a ótimas peças. A melhor delas foi “Sábado, Domingo e Segunda”, possivelmente no Teatro dos Quatro, com Ary Fontoura, Paulo Gracindo, Yara Amaral, Cristina Pereira e outros tantos grandes atores. A direção era de José Wilker. Infelizmente, não fiquei com o ingresso.

Não postarei aqui todos os meus ingressos de teatro, apenas os de duas peças que eu considero marcantes.

“Irma Vap”, em 9 de outubro de 1987, uma peça que marcou época no finado Teatro Casa Grande.

“Rosa”, em 3 de julho de 1988, peça musical com pedro Cardoso e Lucinha Lins no Teatro Villa Lobos, dirigida por Joaquim Assis e Domingos de Oliveira, que conta a história do compositor Noel Rosa. No final, Pedro Cardoso veio à frente do palco para conversar com o público sobre a peça.

Foi minha primeira vez em cada um desses dois teatros. Pedro Cardoso era pouco conhecido e fiquei fã, assim como fiquei fã da obra de Noel Rosa, da qual só conhecia “Conversa de Botequim” e “As Pastorinhas” (que não sabia que era parceria dele com o Braguinha).

Também lamento não ter guardado a entrada da peça “Testemunha de Acusação”, com a grande Henriette Morineau, no Teatro Nelson Rodrigues.

Oswaldo Montenegro

Retomando minhas memórias de arquibancada, hora de revelar meu “passado negro”. Sim, eu era macaco de auditório do Oswaldo Montenegro. Quando ele desembarcou com sua trupe no Teatro da Galeria, no Flamengo, eu acampava na casa dos meus primos ali pertinho.

Oswaldo fazia diferentes shows de seu repertório. Alguns, no mesmo dia, como vocês podem ver em dois ingressos de 11 de janeiro de 1987 para “Os Menestréis” e “A Dança dos Signos”. “Aldeia dos Ventos” eu vi antes, quando ele estava no Teatro de Arena, bem como uma apresentação anterior de “Os Menestréis”. Ou seja, esses três exemplos que eu posto aqui (o outro de dezembro de 1986) são apenas a ponta do iceberg.

No mesmo ano, Oswaldo teria crescido a ponto de se apresentar no Canecão, em agosto. Não creio que tenha sido um espetáculo teatral, mas um show musical comum. Em março, ele finalmente apresentava seu “A Dança dos Signos” no emblemático palco do Canecão.

Em 1989, eu já havia “passado de fase”, mas fui ao show dele em 16 de janeiro acmpanhando minha mãe, irmãos e primos. Era um show comemorativo. 15 anos de carreira ou algo assim. Teve Maitê Proença chorando no palco, subindo toda emocionada, recebendo uma baita declaração de Oswaldo. Eu adorei. Foi meu último show dele.

Revoluções por minuto

1986 começou com o pé direito no quesito “shows”. No ano anterior, minha turma da escola resolveu fazer uma “excursão” a São Conrado para assistir ao show de uma desconhecida banda paulista chamada RPM. O show foi na boate do finado Hotel Nacional, onde também rolava uns festivais de cinema e jazz, salvo engano. Mas eu não fui.

Em janeiro de 86. o papo já era outro. Havia ouvido o disco amarelo e gostado muito. No Canecão, estrearia o famoso show do RPM dirigido por Ney Matogrosso que daria o pontapé inicial na RPMania. Dessa vez não perderia o bonde.

Bati então no portão do meu vizinho Zeca para chamá-lo pra ir com a gente. Ele não respondeu, apenas abriu o portão e me pediu pra entrar. Entrei.

Então ele apontou pra piscina, onde havia uma moça nadando e um cara estirado numa espreguiçadeira tomando banho de sol.

– Sabe quem é aquele ali? – perguntou. E logo emendou – É o Fernando Deluqui, namorado da minha prima de São Paulo. A família tá toda convidada. Quer ir com a gente?

E foi assim que eu assisti ao RPM no Canecão num daqueles mesões de “camarote”, ao lado da mesa de som, como se fosse um videoclipe. Os meus olhos captavam como uma moldura o banda arrebentando no palco e a galera ensandecida pulando e cantando em primeiro plano. Inesquecível.

30 de janeiro de 1986. 35 anos depois, nasceria o Bruno.

Primeiro Rock in Rio

Em janeiro de 1985 eu estava a um mês de fazer 16 anos. Falava-se tanto da confusão que seria o Rock in Rio que eu nem quis perguntar aos meus pais se eu poderia ir.

Pra quem não lembra, foram 10 dias seguidos de show, de 11 a 20 de janeiro. Cada dia tinha uma cor diferente na parte de dentro do ingresso.

Meus primos e um grupo de amigos compraram o talão para os 10 dias. Um deles tinha um sítio no Camorim, que na época não tinha o bando de prédios de hoje, e poderiam ficar lá toda a temporada, indo e voltando a pé. Um luxo para poucos.

Três amigos da escola foram logo no primeiro dia, disparado a melhor noite internacional: Whitesnake, Iron Maiden e Queen. Claro, havia quem preferisse a noite seguinte, com Al Jareau, James Taylor e George Benson. Só que eles fizeram um esquema suicida, fruto da total inexperiência em em eventos do gênero: chegaram ao abrir dos portões, por volta do meio-dia, e ficaram num lugar só, sob um sol de rachar, até o início do espetáculo. Resultado, quando o Queen subiu ao palco, eles já estavam mortos.

Meus irmãos foram no dia seguinte, no chamado dia light, e voltariam ainda para ver, no dia 16, o dia mais chuvoso, Rod Stewart, Rita Lee, Moraes Moreira e Paralamas do Sucesso.

Enquanto isso, em casa eu assistia fascinado à transmissão parcial da Globo. Meu pai ficou bem impressionado com o profissionalismo de tudo e não se importou quando eu pedi pra ir. E claro que eu queria ver o Queen!

O meu amigo Carlos Klimick, que tinha ido no dia 11, havia comprado ingresso pros dois dias do Queen, mas ficou tão arrebentado que jurou jamais voltar a um evento do gênero (e nunca mais voltou mesmo). Então ele me ofereceu o ingresso dele e eu fui no mesmo dia lá comprar. Mesmo passados dois dias, ele me atendeu ainda grogue e com cara de zumbi. Se em vez de pagar eu tivesse pedido dinheiro, era capaz dele me dar e ainda me agradecer.

Depois de ver pela tv o show do Yes no dia 17, incluí o dia 20 na minha lista de desejos.

No dia 18, do Queen, lá estava eu com meus irmãos, primos e amigos. Meu irmão estacionou o Fiat cofrinho no sítio e fomos caminhando. A turma já estava escolada: tinha um ponto de encontro fixo embaixo de um outdoor da Pespsi. Ninguém marcava posição em frente ao palco. Entravam e saíam a cada show.

Pela primeira vez vi alguém fumando maconha na vida. E tinha erva até caindo do céu (sério!).

Cheguei no finalzingo do show do Kid Abelha, que na época eu não curtia. Durante o show do Eduardo Dusek, que na época era roqueiro, fui com meu primo Sérgio lá no gargarejo. Péssima ideia! Lá era tão apertado que fui ficando sem ar. De repente, ficou tudo escuro e desmaiei. A sorte foi que eu caí pra frente, em direção ao vão entre a galera e a borda do palco, que era altíssima, de forma que ninguém ficava ali. A lufada de ar fez eu recuperar os sentidos antes de chegar ao chão. Me segurei na cerca e fui caminhando trôpego para a lateral do palco.

No show do Lulu Santos, entrei com meu irmão e a namorada dele na época. Excelente show, Lulu no auge, com Leo Gandelman na banda. O lugar era tão bom que resolvemos ficar por ali até o show do Queen. Difícil foi aturar os dois shows seguintes.

As Go-Go’s faziam um som gostosinho, mas as músicas eram todas iguais. Depois da terceira, ninguém aguentava mais, e começaram a gritar “go! go!”. Depois veio B-52’s, no auge. Hoje eu curtiria, mas na época eu detestava, era um radical antipop, passei o show de cara fechada.

Então veio o Queen. Bem, tudo o que você já ouviu sobre o Queen e sua participação no Rock in Rio, a energia, a excelência da banda, o carisma de Freddie Mercury, a eletricidade no ar e o maior coral reunido… é tudo verdade. Quem viveu, viveu. Eu vivi.

Dois dias depois, estava eu lá de novo, já me sentindo o próprio veterano de Rock in Rio, fazendo minhas próprias voltinhas, sem medo de me perder de ninguém. Não pegamos o show do Erasmo, transferido do dia 19, mas pegamos o do Barão Vermelho com Cazuza. Marquinho, primo dos meus primos, não parava de gritar entre uma baforada e outra de maconha: “vai, Cazuza, mostra pro mundo que você é uma merda! Lobão! Lobão!”

Na época eu era totalmente por fora dessas tretas do BRock e não entendi nada. Mas Lobão bem que poderia ter participado. E, de fato, nunca vi um cantor desafinar tanto em show quanto Cazuza naquele dia. E olha que eu não era muito de reparar nessas coisas na época.

Gilberto Gil fez um show competente, única vez que o vi ao vivo. E a Blitz fez um show ótimo, superior ao show do dia 13, no qual Fernanda Abreu parecia estar muito chapada.

Dessa vez não fiquei parado pra ver Nina Hagen e, de novo, B-52’s. Fiquei dando voltas nem lembro com quem. Na hora do Yes, acabei assistindo sozinho. Preferi entrar por trás e avançar até um lugar em que desse para ver e ouvir bem, e de forma confortável. Ao meu lado, um cara pasou metade do show tentando equilibrar sua maconha numa bituca de cigarro.

Acabou o show, fogos de encerramento.

O meu ingresso do dia 18, vermelho, ficou na entrada, por um problema na hora de destacar. O do dia 20 é esse aqui, frente e verso.

O mais curioso é lembrar de uma época em que Malt 90 foi considerada cerveja…